A maldição da lei
“Cristo nos resgatou da maldição da lei,
fazendo-se maldição por nós; porque está escrito: Maldito todo aquele que for
pendurado no madeiro” ( Gl 3:13 ).
O apóstolo Paulo
deixa claro que Cristo nos resgatou da maldição da lei, porém, buscando
estabelecer um paradoxo, Piper faz a seguinte pergunta: - A maldição de quem?
Em seguida ele arremata a pergunta com o seguinte argumento: “Mas a lei não é uma pessoa para que possa amaldiçoar. Uma maldição só é
uma maldição de fato se houver alguém que amaldiçoe. A pessoa que amaldiçoa por
meio da lei é Deus, que escreveu a lei. Portanto, a morte de Cristo pelo nosso
pecado e por nossa transgressão da lei foi a experiência da maldição do Pai” Idem.
Para Piper só há
maldição quando há alguém que amaldiçoa, porém ele erra por não discernir que
quem amaldiçoa é o transgressor. A bíblia deixa claro que a maldição é
consequência dos atos do transgressor "Como ao pássaro o vaguear, como à
andorinha o voar, assim a maldição sem causa não virá" ( Pr 26:2 ). A
maldição nunca advém da lei, visto que a lei é santa, justa, e boa. A maldição
decorre do primeiro homem que transgrediu a lei, pois Deus a ninguém tenta “Porque, como pela
desobediência de um só homem, muitos foram feitos pecadores, assim pela
obediência de um muitos serão feitos justos” ( Rm 5:19 ; Tg 1:13 ).
A mesma
argumentação que Piper utiliza ao interpretar o verso em tela é utilizada por
alguns ateus quando analisam a determinação que Deus deu a Adão no Éden. Porém,
como expressa as Escrituras, não foi Deus quem amaldiçoou Adão, porque a
determinação do Éden era expressão do cuidado de Deus, que avisou do risco que
havia em se tornar participante do fruto da árvore do conhecimento do bem e do
mal.
Não foi Deus quem
amaldiçoou Adão, antes foi Adão que buscou e lançou maldição sobre si e sobre
toda a sua descendência em virtude da força da penalidade que havia na
transgressão do mandamento: certamente morrerás. O que Deus deu a Adão foi uma
lei santa, justa e boa, pois foi instituída para preservar-lhe a vida, porém,
na lei estava explícita uma maldição ao transgressor e, quando Adão comeu do
fruto, o pecado que é excessivamente maligno achou ocasião na força da lei santa,
justa e boa que dizia: dela não comerás.
Quando o apóstolo
Paulo diz que Cristo nos resgatou da maldição da lei, pois se fez maldição por
nós, apresentou a base legal: ‘Maldito todo aquele que for pendurado no madeiro’. A maldição que
Cristo veio dar liberdade ao homem diz da maldição do Éden em decorrência da
transgressão do mandamento dado a Adão, e não da maldição da lei mosaica, visto
que a lei mosaica foi dada para conduzir os judeus a Cristo, uma vez que os
gentios não tinham lei ( Gl 3:24 ; Rm 2:14 ; Ef 2:12 ). Se Cristo morresse para
livrar os homens da maldição da lei mosaica, os gentios não seriam contemplados
com a salvação, pois a lei foi escrita e dada especificamente aos judeus, ou
seja, a maldição que Cristo levou sobre si diz da maldição que decorre da
desobediência à lei dada no Éden ( Rm 2:14 ).
Na lei mosaica foi
estipulado que, caso alguém houvesse transgredido a ponto de ser condenado ao
madeiro, que o transgressor não permaneceria pendurado no madeiro de um dia
para o outro ( Dt 21:22 -23).
Por que tal
determinação? Porque assim como a serpente foi levantada no deserto, assim
importava que o Filho do homem também fosse levantado ( Jo 3:14 ; Jo 12:32 -33
). Porém, era necessário o Filho do homem descer ao seio da terra no mesmo dia
da sua morte, pois estava determinado três dias para que Ele permanecesse no
seio da terra e ressurgisse dentre os mortos ( Mt 12:40 ).
Ou seja, a
determinação na lei visava impedir que o corpo de Cristo permanecesse na cruz
de um dia para o outro, visto que, se assim fosse, o Cristo não passaria três
dias no seio da Terra conforme o predito “Quando também em alguém houver pecado,
digno do juízo de morte, e for morto, e o pendurares num madeiro, O seu cadáver
não permanecerá no madeiro, mas certamente o enterrarás no mesmo dia; porquanto
o pendurado é maldito de Deus; assim não contaminarás a tua terra, que o SENHOR
teu Deus te dá em herança” ( Dt 22:22 -33).
Ora, a lei foi dada
por causa dos transgressores, porém, Cristo não transgrediu, antes foi somente
contado entre os transgressores para que pudesse levar sobre si a maldição
deles. A maldição não advém de Deus, antes decorre da transgressão, pois Deus a
ninguém amaldiçoa.
Cristo ter sido
crucificado não significa que Deus amaldiçoou o seu Filho, antes que Ele estava
sendo crucificado em decorrência da transgressão da humanidade. É a
transgressão que impõe maldição, porém, Cristo foi crucificaram sem transgredir "Mas é para que
se cumpra a palavra que está escrita na sua lei: Odiaram-me sem causa" ( Jo 15:25 ).
Mas, porque Cristo
foi parar no madeiro? A resposta advém do salmo 22: Porque como servo do
Senhor, Jesus se tornou verme, opróbrio dos homens, ferido de Deus.
Todos os homens
estavam sob a maldição do Éden, até mesmo os que receberam a lei. Pois a Lei
determinava que quem cumprisse todas as suas determinações viveria por ela, mas
ninguém conseguiu cumprir toda a lei. Como ninguém cumpriu a lei, permanecia a
maldição; "Todos
aqueles, pois, que são das obras da lei estão debaixo da maldição; porque está
escrito: Maldito todo aquele que não permanecer em todas as coisas que estão
escritas no livro da lei, para fazê-las" ( Gl 3:10 )
Quando Cristo veio
em cumprimento da lei ( Mt 5:17 ), veio na condição de Filho amado, em quem
Deus tinha prazer. Ele não era merecedor de morte, pois foi introduzido no
mundo livre de pecado, livre da condenação e da maldição que pesava sobre os
homens. Quando Cristo se sujeitou à morte, e morte de cruz, não foi na condição
de transgressor que foi suspenso como maldito "E, achado na forma de homem,
humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz" ( Fl 2:8 ).
Ele assumiu a
condição de maldito não como transgressor, pois quando foi pendurado no
madeiro, deixou ser pendurado em obediência à determinação do Pai. Ele
sujeitou-se à condição de maldito, deixando ser colocado no madeiro, porém, não
como transgressor, mas em obediência àquele que tinha poder de livrá-Lo ( Hb
10:9 -12); "Cristo
nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se maldição por nós; porque está
escrito: Maldito todo aquele que for pendurado no madeiro" ( Gl 3:13 ).
Na desobediência de
um homem (Adão) muitos foram feitos malditos, mas na obediência do Filho do
homem, que se sujeitou à morte de cruz (cálice), humilhando-se a si mesmo,
muitos foram feitos justos ( Rm 5:19 ).
Os transgressores
eram conduzidos ao madeiro em decorrência dos seus crimes e, permaneciam sob a
maldição da transgressão de Adão, mas quando um obediente sem pecado
sujeitou-se a tomar a cruz e seguir ao calvário, reuniu os elementos
necessários para o resgate da humanidade (de todo que n’Ele crer).
Cristo foi tido
como maldito pelos homens em decorrência da cruz, mas na verdade, na cruz
estava o Cordeiro que pertencia a Deus. O que os homens reputavam por maldito,
aflito, ferido por Deus, na verdade pertencia a Deus, por isso chamado de
‘maldito de Deus’ ( Dt 22:22 -33), o que é muito diferente de ser o amaldiçoado
por Deus, pois a maldição só vem em função da transgressão. Mas Deus escolheu
as coisas loucas deste mundo para confundir as sábias ( 1Co 1:27 ).
Devemos lembrar
também que todos os homens que vem ao mundo entram por Adão, que é a porta
larga que dá acesso a um caminho largo que conduz à perdição. Por causa de Adão
todos os homens são filhos da ira e da desobediência, ou seja, destinados à
separação eterna de Deus. Morrer sem Cristo, ou seja, sem nascer de novo pela
fé no Descendente prometido a Abraão é perdição eterna. Em vista desta verdade,
qualquer que fosse pendurado no madeiro, o que significava morte física, era
maldito, pois seguia para a eternidade alienado de Deus.
Cristo, ao ser
pendurado no madeiro, se fez maldição em prol da humanidade, porém, Ele era sem
pecado pois, não foi gerado segundo a carne, o sangue e a vontade do varão,
antes foi gerado pelo Espírito de Deus no ventre de Maria “Sobre ti fui lançado
desde a madre; tu és o meu Deus desde o ventre de minha mãe” ( Sl 22:10 ).
Apesar de morrer morte de madeiro, o pecado não possuía domínio sobre o Filho
de Deus, pois Ele não foi gerado da semente do pecado, antes foi formado por
Deus no ventre de Maria.
Por não ser
pecador, a morte não teve domínio sobre Cristo, pois a morte só tem domínio
sobre aqueles a quem a lei disse: certamente morreras. Somente sobre esses a
lei possui força, ou seja, sobre os descendentes da carne de Adão. Aquela lei
santa, justa e boa deu ocasião à separação de Deus em função da desobediência
de Adão.
O pecado não
possuía força, antes a buscou na lei que diz: '- Certamente morrerás', a força
necessária para aprisionar o homem. Por causa da morte proveniente da força da
lei, o pecado escraviza os homens, o que foi impossível com Cristo. A morte não
pode resistir! Soltas as ânsias da morte, Jesus ressuscitou para gloria de Deus
Pai.
Ou seja, ao se
oferecer sobre o madeiro, Jesus estava estabelecendo um novo e vivo caminho,
através do sacrifício do seu corpo, de modo que a humanidade voltasse a ter
acesso a Deus. E qual o acesso a Deus? Que os homens tomem cada um a sua
própria cruz sigam após Cristo, sejam crucificados, mortos, sepultados no
batismo da morte de Cristo, quando são de novo gerados uma nova criatura em
verdadeira justiça e santidade em comunhão com Deus.
Portanto, a morte
de Cristo foi substitutiva, visto que qualquer homem que experimentasse a morte
física estaria perdido por toda a eternidade. Mas, como Cristo morreu em lugar
da humanidade, ninguém que n’Ele crê precisa ficar com medo do pecado e da
morte. Ninguém deve temer o madeiro e os sofrimentos dele decorrente! Antes,
deve tomar cada um sobre si a sua cruz e seguir após Cristo até o calvário.
Deve morrer com Cristo, pois a lei que diz: A alma que pecar esta mesma
morrerá, não foi invalidada com a morte de Cristo. Antes ele providenciou o
meio de o homem morrer sem provar a morte física e ser glorificado sem descer à
sepultura ( Rm 6:3 -8; Cl 3:1 ).
A pena imposta pela
lei no Éden não passa da pessoa do transgressor. Como todos pecaram todos devem
morrer, porém, se morrer a morte física sem Cristo é condenação, mas se morrer
com Cristo conforme Ele conclama a todos para que tomem sobre si a sua própria
cruz, quando morrer fisicamente, a morte não mais tem domínio sobre tal pessoa,
pois já ressurgiu com Cristo e é uma nova criatura.
Cristo derramou a
sua alma na morte e foi contado entre os homens (transgressores), para levar
sobre si o pecado de muitos ( Hb 2:9 e 14). Assim Ele fez pelo prêmio que lhe
estava proposto: “Por
isso lhe darei a parte de muitos, e com os poderosos repartirá ele o despojo;
porquanto derramou a sua alma na morte, e foi contado com os transgressores;
mas ele levou sobre si o pecado de muitos, e intercedeu pelos transgressores” ( Is 53:12 ; Hb
12:2 ).
Substitutivamente
Jesus morreu pelos pecadores ( Is 53:6 ), mas para ser digno d’Ele é necessário
ao homem tomar sobre si a sua cruz, chegar ao calvário, morrer com Cristo, ser
sepultado na morte pelo batismo na morte de Cristo ( Rm 6:3 ), e ressurgir
dentre os mortos na condição de irmão do Primogênito dentre os mortos “E quem não toma a sua
cruz, e não segue após mim, não é digno de mim” ( Mt 10:38 ).
Hoje o crente se
gloria na ressurreição! Quando não crente, foi necessário aproximar-se de
Cristo na morte, agora exultamos na ressurreição, pois fomos plantados à
semelhança da sua morte e ressurgimos na semelhança da ressurreição de Cristo.
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