quinta-feira, 16 de julho de 2015

A morte de Cristo não foi a morte de Deus

A morte de Cristo não foi a morte de Deus
Por definição Deus é eterno ( Hb 1:12 ), enquanto do homem, por possuir um corpo de matéria é mortal "Que é o homem mortal para que te lembres dele? e o filho do homem, para que o visites?" ( Sl 8:4 ); "Eu, eu sou aquele que vos consola; quem, pois, és tu para que temas o homem que é mortal, ou o filho do homem, que se tornará em erva?" ( Is 51:12 ).
Deus é eterno. Não há que se falar em morte com relação à divindade. Em primeiro lugar porque Deus não pode alienar-se de si mesmo, ou seja, pecar, o que entendemos por morte, separação, alienação "Para que por duas coisas imutáveis, nas quais é impossível que Deus minta, tenhamos a firme consolação, nós, os que pomos o nosso refúgio em reter a esperança proposta" ( Hb 6:18 ). Em segundo lugar, Deus não é passível de morte física, porque Ele é Espírito.
Como Deus é Espírito e Vida, não há que se falar que Deus morreu quando contemplamos a cruz de Cristo.
Sabemos que só os homens são passiveis de morrer fisicamente, contudo, os homens possuem uma parte imaterial que é imortal: o espírito.
Lançar mão da doutrina dos Calcedônios, por mais ortodoxa que se entenda ser, para forjar um paradoxo, é leviano. Observe o primeiro exemplo de Piper: ‘... sendo que Jesus Cristo é homem e Deus em uma única pessoa, sua morte foi a morte de Deus?’ ( Idem).
Ora, através das Escrituras concebemos Deus em três pessoas distintas, porém, coeternas unidas pelo vínculo da perfeição. Através das Escrituras sabemos também que uma das pessoas da divindade resignou-se a deixar a sua condição de divindade, de modo que efetivamente despiu-se da sua glória e tornou-se efetivamente homem.
É por causa desta verdade exarada nas Escrituras que sabemos e compreendemos que Cristo era homem e Deus "Portanto o mesmo Senhor vos dará um sinal: Eis que a virgem conceberá, e dará à luz um filho, e chamará o seu nome Emanuel" ( Is 7:14 ). Ou seja, na eternidade, a segunda pessoa da divindade, o Verbo, despiu o seu Espírito da glória que lhe pertencia e foi encarnado no ventre de Maria.
Sobre essa verdade comentou o apóstolo Paulo: "Que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus. Mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens; E, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz" ( Fl 2:6 -8).
Ou seja, embora Cristo fosse Deus, conforme atesta o testemunho das Escrituras, na condição de homem Jesus foi 100% homem, ou seja, Ele esvaziou 100% a si mesmo dos seus atributos divinos.
Cristo era Deus antes de ser encarnado, ou seja, era onisciente, onipresente e onipotente ( Jo 1:30 ), de modo que Ele criou todas as coisas e nada do que foi feito se fez ( Jo 1:3 ). Mas, para ser homem, Cristo teve que se despir completamente da sua divindade. Para que Cristo em tudo fosse semelhante aos homens e, inclusive sujeito à morte, teve que despir-se completamente, totalmente dos seus atributos "Por isso convinha que em tudo fosse semelhante aos irmãos, para ser misericordioso e fiel sumo sacerdote naquilo que é de Deus, para expiar os pecados do povo" ( Hb 2:17 ); “... fora feito um pouco menor do que os anjos, por causa da paixão da morte, para que, pela graça de Deus, provasse a morte por todos” ( Hb 2:9 ).
Portanto, antes de ser encarnado, Cristo possuía todos os atributos da divindade, porém, na condição de homem, Cristo não possuía nenhum atributo da divindade. Ele tornou-se homem, despido dos atributos da divindade, de modo que Ele tornou-se participante da carne e do sangue e sujeitos as mesmas fraquezas de todos os homens, inclusive, sujeito à morte, porém, sem pecado ( Hb 4:15 ).
Portanto, Cristo despiu-se 100% da sua glória e assumiu a natureza humana. Ele morreu por ser 100% homem, e ressurgiu dentre os mortos glorificado com 100% do poder que possuía antes de ser encarnado "E agora glorifica-me tu, ó Pai, junto de ti mesmo, com aquela glória que tinha contigo antes que o mundo existisse" ( Jo 17:5 ).
Falando na linguagem bíblica, Deus fez o homem à sua imagem: “E criou Deus o homem à sua imagem” ( Gn 1:27 ), portanto, ao esvaziar-se dos seus atributos, Deus assumiu a figura da sua imagem. Deus esvaziado de seus atributos não assumiu a condição de anjo, ou de qualquer outra criatura, antes assumiu a figura da sua imagem que concedera a Adão "No entanto, a morte reinou desde Adão até Moisés, até sobre aqueles que não tinham pecado à semelhança da transgressão de Adão, o qual é a figura daquele que havia de vir" ( Rm 5:14 ), pois a expressa imagem do Deus invisível foi a nova condição que Cristo assumiu ao ressurgir dentre os mortos ( Hb 1:3 ), condição que passou a compartilhar com a igreja "Mas todos nós, com rosto descoberto, refletindo como um espelho a glória do Senhor, somos transformados de glória em glória na mesma imagem, como pelo Espírito do Senhor" ( 2Co 3:18 ; 1Jo 3:2 ).
Ora, a divindade de Cristo não foi perdida quando da encarnação, pois o escritor aos Hebreus é claro quanto à adoração de Cristo: “E outra vez, quando introduz no mundo o primogênito, diz: E todos os anjos de Deus o adorem” ( Hb 1:6 ), mas as propriedades próprias à divindade Ele despiu-se, de modo que Jesus roga ao Pai que se lhe dê a glória que possuía anteriormente.


Embora despido da sua glória, Cristo não abriu mão de que os homens o reconhecessem como Deus e da adoração que lhe era devida, visto que o Pai nas Escrituras não lhe vetou tal prerrogativa. Entre os homens Jesus identificou-se como o ‘Eu Sou’ e foi adorado "Ele disse: Creio, Senhor. E o adorou" ( Jo 9:38 ; Jo 8:58 ).
Se considerarmos de modo diferente da exposição das Escrituras, incorreremos em imprecisões: “O mistério da união entre a natureza humana e a divina na experiência da morte não nos é revelado. O que sabemos é que Cristo morreu, e que no mesmo dia ele foi ao paraíso (“Hoje estarás comigo no paraíso,” Lucas 23.43). Sendo assim, parece ter havido consciência na morte, de modo que a união contínua entre a natureza humana e a divina não precisasse ser interrompida, ainda que Cristo tenha morrido somente em sua natureza humana (Idem) grifo nosso.
1.     Assim como os homens são sujeitos à morte física, Cristo sujeitou-se à condição humana de modo que efetivamente morreu; Cristo morreu porque sofreu o término das suas funções vitais, porém, o seu espírito seguiu no pós-morte o mesmo caminho que é comum a todos os homens "E o pó volte à terra, como o era, e o espírito volte a Deus, que o deu" ( Ec 12:7 ); Ele despiu-se da sua glória e tornou-se homem, ou seja, participante da carne e do sangue. A bíblia é clara: Cristo morreu, foi sepultado e ressurgiu ao terceiro dia. A diferença entre Cristo e a humanidade após descer à sepultura está no fato de que o corpo de Cristo não viu corrupção, pois ressurgiu dentre os mortos;
2.     Assim como os homens possuem um corpo físico mortal, Cristo possuía um corpo mortal; assim como todos os homens possuem um espírito imortal, Cristo na eternidade era o Espírito imortal que, ao despir de sua glória, foi encarnado; já na encarnação Cristo passou a depender exclusivamente do Pai, pois da sua concepção no ventre de Maria Jesus já estava despido de sua glória e poder; é por isso que o salmista registra: ‘Sobre ti fui lançado desde a madre’ (v. 10); da mesma forma que Deus não pode morrer, o espírito dos homens não podem morrer; por proceder de Deus jamais os espíritos dos homens deixarão de existir;
3.     Deus na sua glória não morre, ou seja, é eterno, imortal. Mas, quando Cristo despiu-se da sua glória, assim o fez de modo que pudesse provar a morte física, de modo que ele veio em semelhança da carne do pecado. Quando Cristo morreu foi o seu corpo físico que morreu; quando falamos de morte, devemos considerar que a morte do homem se dá quando o espírito do homem deixa de habitar o corpo; quando Cristo morreu o seu espírito que fora despido da glória que possuía separou-se do corpo, de modo que o espírito foi entregue nas não de Deus, e o seu corpo sepultado;
4.     Quando Cristo morreu, permaneceu consciente na morte assim como todos os homens permanecem conscientes, pois não é o corpo que dá consciência, antes é o espírito do homem que lhe dá entendimento “Na verdade, há um espírito no homem, e a inspiração do Todo-Poderoso o faz entendido” ( Jó 32:8 );
5.     Compartilhar da natureza divina é factível a todos os homens, desde que creiam em Cristo ( 2Pe 1:4 ). Quando a bíblia fala de Cristo, ela apresenta o conceito de ‘despir-se de sua glória’; ao despir-se da sua glória, a comunhão de Cristo com o Pai não foi interrompida, e nem perdeu a prerrogativa de ser adorado por suas criaturas; o que foi interrompido foi a prerrogativa de Cristo utilizar da Sua glória, do seu poder; quando na semelhança da carne do pecado, Cristo era homem e em comunhão com o Pai, porém, despido da sua glória; quando foi morto, Jesus despiu-se da carne do pecado e passou a estar em espírito por um período de três dias; após ressurreto, Jesus passou a estar de posse de todo o poder que possuía antes;
6.     Portanto, à luz das Escrituras, Jesus realmente morreu, assim como todos os homens morrem. Embora em comunhão com o Pai, teve que entregar o espírito ao Pai quando morreu, assim como o faz todos os homens; os homens são naturalmente homens, ou seja, menores que os anjos, porém, podem ser carnais (gerados de Adão) ou espirituais (gerados de novo em Cristo); deste modo é impossível ao homem possuir duas naturezas: uma carnal e outra espiritual; Cristo, por sua vez, apesar de ser participante de um corpo semelhante à carne do pecado, contudo, por ter sido gerado por Deus no vente de Maria nunca foi carnal, ou seja, desde o seu nascimento Jesus era espiritual, embora possuísse um corpo carnal ( 1Co 15:45 -47).
Cristo, sendo Deus esvaziou-se da sua glória e se fez homem, o que possibilitou que Cristo estivesse sujeito à morte, sujeito a que o espírito se separe do corpo, pois a morte física é uma faculdade pertinente somente aos homens “Ora, ao Rei dos séculos, imortal, invisível, ao único Deus sábio, seja honra e glória para todo o sempre. Amém” ( 1Tm 1:17 e 6:16); "Vemos, porém, coroado de glória e de honra aquele Jesus que fora feito um pouco menor do que os anjos, por causa da paixão da morte, para que, pela graça de Deus, provasse a morte por todos" ( Hb 2:9 ).
Portanto, podemos dizer que Cristo é Rei dos séculos, imortal, invisível e, a Sabedoria de Deus, e a Ele seja a honra e a glória para todo o sempre, pois como homem, ao ser gerado no ventre de Maria, Cristo nasceu, cresceu e, quando adulto, na plenitude dos seus dias, Jesus foi cortado da terra dos viventes "Da opressão e do juízo foi tirado; e quem contará o tempo da sua vida? Porquanto foi cortado da terra dos viventes; pela transgressão do meu povo ele foi atingido" ( Is 53:8 ).
As agruras e o terror da morte assombraram o Cristo do mesmo modo que aterroriza todo e qualquer mortal ( Sl 56:3 ), pois após despir-se da sua glória Cristo se fez homem, conforme foi prometido a Abraão, segundo a linhagem de Davi ( Mt 26:36 -37; Lc 22:44 ).


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