As Vestes de Cristo
“E, havendo-o crucificado, repartiram as suas vestes, lançando
sortes, para que se cumprisse o que foi dito pelo profeta: Repartiram entre si
as minhas vestes, e sobre a minha túnica lançaram sortes” Mateus 27: 35
Nossas vestes falam de distinção social, autoridade, costumes,
pudor, respeito, etc. Biblicamente, elas simbolizam proteção, Gn 3: 10. Os
soldados rasgaram as vestes de Jesus. Essas nada simbolizam. Entretanto,
glória, majestade, divindade e poder são as vestes espirituais de Jesus.
O texto de Mateus fala sobre “as vestes de Jesus”. Parece
ser um tema polêmico e de difícil interpretação. No entanto, observe com
atenção que, no momento em que Jesus morria pela humanidade na cruz do
Calvário, os soldados tiraram as vestes dele e as repartiram entre si.
Fazendo uma aplicação, veremos que não tem sido diferente nos
dias de hoje, pois estão tirando e repartindo as vestes de Jesus, ou seja,
estão distorcendo as doutrinas cristológicas, ferindo os princípios bíblicos,
distanciando muitos da fé cristã ou deixando-os no caminho da dúvida.
Vejamos com que vestes espirituais o Senhor Jesus está protegido
e como isso pode ajudar-nos a compreender que Ele é Deus, a segunda pessoa da
Trindade. Isto nos convida a uma profunda, consciente e atual reflexão.
Na Cidade Wartburg, o
castelo onde Lutero traduziu a Bíblia. Há muitas coisas interessantes para ver
ali – além da sala onde Lutero trabalhou.
- Por exemplo, nas paredes há
retratos de todo tipo. Chama a atenção que as mulheres se apresentam em
seus melhores trajes.
- E os homens usam vestimentas
ricamente enfeitadas com medalhas, ou então magníficos uniformes ou
armaduras. As pessoas faziam-se retratar em toda a sua dignidade,
principesca ou real.
Diz o ditado popular: “O hábito faz o monge”. De fato, muitas vezes as
roupas dizem algo a respeito do caráter de uma pessoa, costumes, tradições, preferências
etc.. É bem verdade que há pessoas ricas e influentes que se vestem de forma
simples, mesmo que os tecidos que usam sejam muito caros. Assim, uma simples
olhada de relance realmente pode dar uma impressão errada.
As estrelas e celebridades da nossa época normalmente não poupam
esforços nem dinheiro a fim de se apresentarem com as melhores e mais
chamativas roupas, apenas para continuarem in e para que se fale
delas.
Como o Senhor Jesus, o Rei dos reis e Senhor do senhores, estava
vestido no dia de Sua morte (crucificação)? Ele usou seis vestimentas
diferentes. Em minha opinião, Deus quer nos transmitir uma mensagem por meio
delas. Vamos analisá-las uma a uma.
1)
A roupa resplandecente
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Quando Pôncio Pilatos descobriu que Jesus era da Galiléia, e que
Herodes, cujo domínio incluía a Galiléia, estava em Jerusalém naquele momento,
ele enviou o Senhor até Herodes (Lc
23.6-7). Fazia tempo que este desejava ver um sinal milagroso realizado por
Jesus. Mas como o Senhor não respondeu às suas perguntas (v.9) nem realizou milagres, o aparente interesse por Jesus
imediatamente se transformou em zombaria e gozação: “E Herodes, com os seus
soldados, desprezou-o, e, escarnecendo dele, vestiu-o de uma roupa
resplandecente, e tornou a enviá-lo a Pilatos” (v.11, RC). Outras
traduções chamam esta roupa de “manto
esplêndido”, “manto branco” ou “manto real”.
É óbvio
que Herodes queria usar isso para expor a reivindicação da realeza de Jesus ao
deboche público. Pois, pouco antes Jesus tinha respondido à pergunta de Pilatos:
“És tu o rei dos judeus?” com “Tu o dizes” (v.3). Todo o
Sinédrio reunido naquele lugar tinha escutado essas palavras, e os mesmos
homens agora acusavam Jesus diante de Herodes, com certeza também pela Sua
reivindicação de ser o Rei dos judeus (cf. Lc 23.3,10).
Com esta roupa resplandecente que Herodes tinha mandado que
vestissem em Jesus, ele
·
O tinha exposto à zombaria das pessoas. Elas zombavam dEle por
causa daquilo que Jesus realmente era: o Rei dos judeus; a verdade absoluta e
comprovada a respeito de Jesus foi debochada.
Algo muito parecido acontece hoje: inúmeras publicações sobre
Jesus arrastam a verdade a respeito de Sua Pessoa na lama. Nenhuma outra
religião é tão vilipendiada quanto o verdadeiro cristianismo, pois a mensagem
do Evangelho de Jesus Cristo que ela prega é a verdade. Por trás disso está o
pai da mentira, o diabo (Jo 8.44), que combate essa verdade com todos os meios
de que dispõe.
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A roupa resplandecente colocada sobre Jesus também significa que
o Senhor tomou sobre si todos os pecados, mesmo aqueles que o ser humano tanto
gosta de usar, mas que não o fazem feliz: roupas maravilhosas, esplêndidas, e
jóias preciosas. Os homens gostam de se apresentar com elas, mas, na maioria
das vezes, por baixo só estão escondidos egoísmo, orgulho e uma ambição
ilimitada.
A “roupa resplandecente” dos homens tenciona esconder a sua
miséria e natureza pecaminosa, o “manto branco” precisa ocultar a hipocrisia, o
“manto esplêndido” tenta neutralizar o mau cheiro da debilidade humana e o
“manto real” procura testemunhar imortalidade, mesmo que o ser humano seja
totalmente mortal.
Jesus vestiu, tomou sobre si e carregou tudo isso. Agora Ele
transforma qualquer pessoa que crê nEle em “rei e sacerdote” (cf. Ap 1.5-6).
2 O manto escarlate
Depois que Pilatos tinha mandado açoitar Jesus (Mt 27.26), o
texto continua: “Logo a seguir, os soldados do governador,
levando Jesus para o pretório, reuniram em torno dele toda a coorte.
Despojando-o das vestes, cobriram-no com um manto escarlate” (vv.
27-28). Outras traduções falam em “manto de púrpura”, “capa de soldado
púrpura” ou “manto vermelho”. Tratava-se de uma capa vermelha do tipo usado por
soldados. Foi uma capa dessas que colocaram nos ombros de Jesus.
·
Sem
saber, em seu deboche e zombaria os soldados fizeram algo cujo significado mais
profundo indica o motivo do sacrifício de Jesus.
·
Afinal, o “manto
vermelho” ou “escarlate” nos lembra todo aquele sangue derramado sobre a terra,
as incontáveis guerras e as muitas vítimas inocentes. Ele proclama que o homem
não se entende com seu próximo, que há apenas brigas entre eles. Ele nos lembra
assaltos, violência, poder desmedido e injustiça, assassinatos e homicídios e o
espírito assassino inventivo da humanidade. Ele nos lembra as grandes guerras
(entre os povos) e as pequenas guerras (nas famílias, entre vizinhos, etc.).
O “manto escarlate” do soldado representa ódio e vingança,
retaliação, busca por poder e exercício da tirania. Mas ele também expressa que
o homem não vale nada para os outros homens. Esse “manto vermelho do soldado”
deveria estar sempre diante dos nossos olhos.
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Jesus quis tomar nossa culpa sobre si de forma voluntária, e fez
isso de forma conseqüente. Essa era a Sua missão, a Sua tarefa. Jesus tomou
sobre si a culpa de todas as discórdias do relacionamento humano, todo ódio e
todo assassinato: esta é a verdade ilustrada pelo “manto vermelho do soldado”,
que Ele permitiu que fosse colocado em Seus ombros.
3 Suas próprias roupas
“E, depois de o haverem escarnecido, tiraram-lhe a capa,
vestiram-lhe as suas vestes e o levaram para ser crucificado” (Mt 27.31,
ACF).
As roupas de Jesus eram feitas por mãos de homem, para serem
usadas por homens; eram de material terreno. Jesus usou essas roupas durante a
Sua vida.
Sendo Deus, Ele vestiu essa “roupa” para se tornar completamente
homem. Ele praticamente “vestiu nossa pele” e assumiu humanidade completa.
E como Jesus usou essas roupas feitas por homens, elas também
realizaram milagres. Uma mulher tocou a bainha da Sua roupa e imediatamente
ficou curada (Mc 5.25ss.).
As roupas de Jesus indicam que Ele se tornou homem, e nos
ensinam que Ele quer tornar a nossa humanidade completa. E quando nós O
convidamos a preencher nossa humanidade, Cristo, a esperança da glória (Cl
1.27), vive em nós.
Suas roupas se transformaram em símbolo da redenção, pois quatro
soldados as tomaram e dividiram entre si (Jo 19.23). As roupas de um condenado
à cruz eram despojos dos carrascos. Assim, as roupas de Jesus, crucificado
vicariamente pela nossa culpa, transformaram-se em “vestes de salvação” para
nós (Is 61.10).
Tiraram dele a “capa” e “vestiram-lhe as suas vestes”.
- Jesus não era nem
como Herodes (manto esplêndido) nem como os soldados (capa). Ele os usou e
depois foi despido delas. Mas Ele continuou sendo verdadeiro homem.
4 A túnica
“Os soldados, pois, quando crucificaram Jesus, tomaram-lhe as
vestes e fizeram quatro partes, para cada soldado uma parte; e pegaram também a
túnica. A túnica, porém, era sem costura, toda tecida de alto a baixo.
Disseram, pois, uns aos outros: Não a rasguemos, mas lancemos sortes sobre ela
para ver a quem caberá – para se cumprir a Escritura: Repartiram entre si as
minhas vestes e sobre a minha túnica lançaram sortes. Assim, pois, o fizeram os
soldados” (Jo 19.23-24).
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O texto diz expressamente que essa túnica tinha sido tecida sem
usar qualquer costura.
As roupas do sumo sacerdote também eram feitas dessa forma:
- “Farás também a
sobrepeliz da estola sacerdotal toda de estofo azul. No meio dela, haverá
uma abertura para a cabeça; será debruada essa abertura, como a abertura
de uma saia de malha, para que não se rompa” (Êx 28.31-32). A diferença
estava no fato de que o sumo sacerdote usava essa peça por cima de todas
as outras, e Jesus a usava por baixo. Isso também tem um significado mais
profundo: Jesus Cristo é o verdadeiro Sumo Sacerdote, ainda ocultado. Ele
veio ao mundo como Filho de Deus e revelou-se como Messias de Israel em
Seus atos. Mas era preciso que também ficasse claro que Ele era mais que
isso: o eterno Sumo Sacerdote de Seu povo. No fim de Sua vida ficou claro
qual era o Seu destino inicial.
O povo celebrou-O como Filho de Davi, louvou-O como Messias e
grande Profeta. Contavam com a vitória sobre os romanos e o estabelecimento de
um reino messiânico. Mas eles não perceberam que primeiro Jesus teria de morrer
pelos pecados dos homens, como o Cordeiro de Deus. Podemos chegar a Ele, o
Senhor crucificado e ressuscitado, com toda a nossa culpa. Ele intercede por
nós, é nosso Advogado diante do Pai celeste: Seu sacrifício vale perante Deus.
Jesus é tudo de que nós precisamos!
A túnica de Jesus não tinha costuras. O sacerdócio de Jesus é
indivisível, não há nenhuma costura que possa ser desfeita, ele é uma unidade.
Seu sacerdócio não pode ser dividido com Maria, outra assim chamada mediadora,
nem com os sacerdotes eclesiásticos, nem com o papa nem com nenhuma outra
religião. Somente Ele é o eterno e verdadeiro Sumo Sacerdote, o único Mediador
entre Deus e os homens (cf. 1 Tm 2.5-6).
5 O pano
Como Jesus fora despido de Suas roupas e de Sua túnica, Ele
ficou dependurado na cruz coberto apenas por um pano. Estava praticamente nu.
- O
Salmo 22.17-18
O descreve desta forma: “Posso contar todos os meus ossos; eles me
estão olhando e encarando em mim. Repartem entre si as minhas vestes e
sobre a minha túnica deitam sortes”. Hermann Menge traduziu a última
parte do versículo 17 desta forma: “...mas eles olham para mim e se
deleitam com a visão”.
2)
A nudez
retrata pecado e vergonha.
3)
Ela personifica o pecado
original. Desde Adão todos nós nascemos em pecado, por isso chegamos ao mundo
nus. Em Gênesis 3.7 lemos: “Abriram-se,
então, os olhos de ambos; e, percebendo que estavam nus, coseram folhas de
figueira e fizeram cintas para si”.
Adão disse a Deus: “Ouvi a tua voz no jardim, e, porque estava nu, tive
medo, e me escondi” (v.10).
4)
E Deus respondeu: “Quem te fez saber que estavas nu? Comeste
da árvore de que te ordenei que não comesses?” (v.11).
O primeiro Adão pegou o fruto proibido da árvore, e tornou-se o
pecador cuja iniqüidade pesa sobre todos os homens.
O último Adão foi pendurado num madeiro e “feito pecado” (2 Co 5.21). Jesus tomou sobre si a culpa original do
pecado a fim de eliminar a culpa do homem. Quem crê em Jesus não tem somente o
perdão de seus pecados, mas também do pecado original, no qual todos nós
nascemos.
6 Os lençóis
“Tomaram, pois, o corpo de Jesus e o envolveram em lençóis
(de linho) com os aromas, como é de uso entre os judeus na
preparação para o sepulcro” (Jo 19.40).
O linho era usado nas vestes sacerdotais (Lv 6.10). Também os
tapetes, toalhas e cortinas do tabernáculo eram feitos de linho (Êx 26.1,31,36;
cf. também 1 Cr 15.27).
Era costume que os judeus mortos fossem sepultados enrolados em
lençóis de linho. Jesus foi “sepultado” como um verdadeiro judeu.
Mais tarde, quando Jesus ressuscitou, o texto diz: “Então,
Simão Pedro, seguindo-o, chegou e entrou no sepulcro. Ele também viu os
lençóis, e o lenço que estivera sobre a cabeça de Jesus, e que não estava com
os lençóis, mas deixado num lugar à parte” (Jo 20.6-7).
Em minha opinião, os lençóis nos lembram as obras da lei, o
sacerdócio do Antigo Testamento, o tabernáculo, as leis e prescrições, as obras
e os esforços dos judeus que seguiam a lei.
Jesus foi colocado no túmulo envolto em linho, mas na Sua
ressurreição Ele deixou os lençóis para trás. Ele cumpriu a lei de forma
completa. Ele é o cumprimento da lei (Mt 5.17). Nele qualquer pessoa que Lhe
pertença é tornada completa.
Aplicação pessoal
Jesus usou o manto esplêndido de Herodes, o orgulho e a soberba
da humanidade sem Deus. O Senhor permitiu que Lhe colocassem o manto vermelho
dos soldados, o ódio abismal e a brutalidade do ser humano. Jesus usou Suas
próprias roupas: Ele se tornou completamente homem. Ele usou uma túnica sem
costuras: Ele é o verdadeiro Sumo Sacerdote. Na cruz Ele foi coberto somente
com um pano. Jesus levou não somente os pecados, mas o pecado original. Na
morte o Senhor usou os lençóis de linho, depois despidos na ressurreição. Jesus
é o cumprimento da lei.
Agora toda pessoa renascida é chamada a despir o velho homem e
vestir o novo homem em Cristo: “...[despojai-vos] do velho homem, que
se corrompe segundo as concupiscências do engano, e [renovai-vos] no espírito
do vosso entendimento, e [revesti-vos] do novo homem, criado segundo
Deus, em justiça e retidão procedentes da verdade” (Ef 4.22-24). “...revesti-vos
do Senhor Jesus Cristo” (Rm 13.14).
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