Salmo 22
Leitura Salmo 22
Todos os homens
que vem ao mundo entram por Adão.
Que é a porta larga que dá acesso a um
caminho largo que conduz à perdição. Por causa de Adão todos os homens são
filhos da ira e da desobediência, ou seja, destinados à separação eterna de
Deus. Morrer sem Cristo, ou seja, sem nascer de novo pela fé no Descendente
prometido a Abraão é perdição eterna. Em vista desta verdade, qualquer que
fosse pendurado no madeiro, o que significava morte física, era maldito, pois
seguia para a eternidade alienado de Deus.
Recentemente foi o
artigo “Dois
paradoxos na morte de Cristo”, do pastor, conferencista e escritor
americano John Piper e fiquei perplexo com a disposição dos argumentos e da
conclusão dele acerca de algumas nuances pertinente à morte de Cristo.
“Portanto, a morte
de Cristo pelo nosso pecado e por nossa transgressão da lei foi a experiência
da maldição do Pai. É por essa razão que Jesus disse, ‘E perto da hora nona
exclamou Jesus em alta voz, dizendo: Eli, Eli, lamá sabactâni; isto é, Deus
meu, Deus meu, por que me desamparaste?’ (Mt 27:46) (...) Na morte de Cristo,
Deus lançou sobre ele os pecados do seu povo (Isaías 53.6), os quais odiava. E
em ódio por esse pecado, Deus deu as costas a seu Filho carregado de pecados,
e o entregou para sofrer todo o poder da morte e da maldição” Piper, John, Artigo: Dois paradoxos na morte de Cristo - grifo nosso
(amplamente divulgado na web).
A asserção de que
Cristo experimentou a maldição do Pai como sendo o ensino evangélico mais comum
é até compreensível, porém, fazer uso da passagem da carta de Paulo aos
Gálatas:
“Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se maldição por nós; porque
está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado no madeiro” ( Gl 3:13 ), para
justificar tal consenso é assustador.
O argumento de que
foi Deus quem amaldiçoou o seu Filho porque Ele é o autor da lei é espúrio do
ponto de vista bíblico. Os argumentos expostos no artigo “Dois paradoxos na morte de Cristo” não refletem o posicionamento das
Escrituras. Porém, de toda a argumentação do proeminente escritor no artigo em
análise, a aberração maior coube à seguinte declaração:
O texto possui
imprecisões quanto à interpretação bíblica e reflete um consenso distorcido e
divorciado da verdade, pois uma releitura das últimas palavras de Cristo na
Cruz deixa nítido que não há paradoxo algum na morte de Cristo e que Deus não
amaldiçoou o Seu Filho.
Deus
meu, Deus meu, por que me desamparaste?
O evangelista Lucas
relata que, após Cristo ter rendido o espírito, o centurião que estava ao pé da
cruz fez a seguinte confissão: “Na verdade, este homem era justo” ( Lc 23:47 ), e a
multidão que assistiu a crucificação voltou batendo no peito ( Lc 23:48 ).
Ora, Cristo era
mestre por excelência, e o evento da crucificação foi cenário de uma aula magna
de interpretação das Escrituras, além de constituir-se a vitória da humanidade
sobre a maldição do pecado.
É de conhecimento
que Jesus ao falar às multidões fazia uso do grego ‘Koine’, língua comum ao
povo. Porém, quando da crucificação, Jesus falou uma única frase em aramaico, o
que chamou a atenção dos evangelistas, que registraram tal fato tão
significativo. Quando Ele disse: - Eli, Eli, lamá sabactâni, muitos não
compreenderam o que fora dito, a ponto de interpretarem que Cristo clamava por
Elias ( Mt 27:47 ).
Os evangelistas,
por sua vez, ao fazer menção da frase pronunciada por Cristo, de pronto
providenciaram a tradução do que foi dito, que se resume na seguinte frase: - Deus meu, Deus meu,
por que me desamparaste?
Naquele instante
cruento Jesus não estava lamentando que fora abandonado, antes Ele citou as
Escrituras, de modo que, quem o ouviu, posteriormente poderia relacionar o
evento da crucificação com o que vaticinara o salmista Davi no salmo 22.
Ao citar as
Escrituras, Jesus estava anunciando abertamente a todos que assistiam a
crucificação que, naquele instante, cumpria-se o predito no salmo 22. Quando
Jesus leu o trecho do profeta Isaías no templo, afirmou categoricamente: - Hoje se cumpriu
esta Escritura em vossos ouvidos ( Lc 4:21 ), quando bradou na cruz: - Eli, Eli,
lamá sabactâni, foi o mesmo que anunciar: - Hoje se cumpriu esta Escritura em
vossos ouvidos.
O salmo 22 é
composto de 31 versos. Jesus citou o primeiro verso em aramaico, o que
remeteria os ouvintes a considerarem todo o contexto do salmo.
Sabemos que os
salmos, na sua grande maioria, constituem-se em profecias messiânicas, pois os
salmistas não falavam de si mesmos, mas do Cristo ( 1Cr 25:1 ). Neste salmo é
evidenciada a mesma verdade anunciada por Isaias: “...não tinha beleza nem formosura e, olhando
nós para ele, não havia boa aparência nele, para que o desejássemos (...) e
nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus, e oprimido" ( Is 53:2 ).
Qualquer homem que
olhasse para Cristo teria a impressão de que ele era aflito, ferido e oprimido
por Deus, e o salmo 22, versos 1 à 8 descreve o final da existência do Cristo
entre os homens e o desprezo dos seus algozes.
A expressão: - Deus
meu, Deus meu, por que me desamparaste? demonstra quão efetivamente as pessoas
que assistiram a crucificação tiveram a impressão de que Cristo era aflito,
ferido e oprimido por Deus.
Era evidente o
contraste entre Cristo e os demais homens. Nestes oito versos é profetizado a
visão que os homens teriam de Cristo: verme e opróbrio dos homens “A ti clamaram e
escaparam; em ti confiaram, e não foram confundidos. Mas eu sou verme, e não
homem, opróbrio dos homens e desprezado do povo” ( Sl 22:5 -6).
Cristo clamou ao
Pai no Getsêmani para que, segundo a vontade do Pai, passasse dele o cálice.
Aparentemente Cristo não foi atendido, uma vez que Ele bebeu o cálice que o Pai
deu a beber e, na hora da crucificação as pessoas diziam em tom de deboche: “Confiou em Deus;
livre-o agora, se o ama; porque disse: Sou Filho de Deus” ( Mt 27:43 ),
porém, o livramento do Pai estava além túmulo, algo que os homens não
compreendiam: "Pois
não deixarás a minha alma no inferno, nem permitirás que o teu Santo veja
corrupção" ( Sl 16:10 ); "Para
que viva para sempre, e não veja corrupção" ( Sl 49:9 ).
Os versos seguintes
do salmo 22 demonstram a confiança de Cristo no Pai, pois Ele sabia que fora
lançado do ventre materno por Deus ( Sl 22:9 -10). Qualquer que compreende as
Escrituras sabe que na morte de Cristo estava a vitória d’Ele e,
concomitantemente, a vitória da humanidade. A crucificação é a pedra de toque
para se identificar quem crê ou não na salvação providenciada por Deus ( 1Co
1:23 ).
A petição do verso
1 do salmo 22 fica esclarecida à luz do verso 11. A profecia revela as nuances
da aflição através dos seguintes rogos: - Deus meu, Deus meu! "E invoca-me
no dia da angústia; eu te livrarei, e tu me glorificarás" ( Sl 50:15 ). Ou
seja, o salmo 22 prescreve o modo como Cristo na angustia deveria clamar ao
Pai, pois deste modo haveria de glorificar o Pai “Os quais pronunciaram os meus lábios, e
falou a minha boca, quando estava na angústia (...) A ele clamei com a minha
boca, e ele foi exaltado pela minha língua” ( Sl 66:14 e 17).
A profecia revela a
confiança do Filho no Pai, de modo que, mesmo na aflição sabia que o Pai seria
com Ele “Não te alongues de mim” é expressão de confiança em quem poderia
auxiliá-Lo na angustia, pois aquele era o momento de passar pelo vale da sombra
da morte, e só Deus poderia auxiliá-Lo “Não te alongues de mim, pois a
angústia está perto, e não há quem ajude” ( Sl 22:11 ).
Assim como o
profeta anuncia que o Pai haveria de responder e estar com o Filho na aflição “Ele me invocará, e
eu lhe responderei; estarei com ele na angústia; dela o retirarei, e o
glorificarei” (Sl 91:15 ), de igual modo o profeta deixa registrado que o Filho
haveria de invocar o Pai ( Sl 22: 1 e 11).
Do verso 12 ao 21
são descritos vários eventos pertinentes à crucificação, porém, do verso 23 em
diante, o salmista descreve profeticamente uma sobre-excelente vitória em meio
ao sofrimento, e apresenta o motivo: “Porque não desprezou nem abominou a
aflição do aflito, nem escondeu dele o seu rosto; antes, quando ele
clamou, o ouviu” ( Sl 22:24 ).
O verso deixa claro
que Deus não desprezou e nem abominou a aflição de Cristo. De igual modo deixa
claro que Deus não escondeu d’Ele o seu rosto, ou seja, Deus nunca deu as
costas para o seu Filho. É mentira tal ideia que se anuncia em muitos púlpitos
evangélicos! Deus não abandonou e nem deu as costa para o seu Filho como
divulgam, pois o salmo é claro: “Quando ele clamou, o ouviu” ( Sl 22:24 ); “Ele me invocará, e eu
lhe responderei; estarei com ele na angústia; dela o retirarei, e o
glorificarei” ( Sl 91:15 ; Sl 56:13 ; Sl 20:6 ).
Cristo não foi
desprezado e nem tido por abominação diante de Deus apesar da aflição e de ser
o aflito de Deus, d’Ele não escondeu o seu rosto, o que contraria a ideia de
que Deus voltou as costas para o seu Filho em decorrência do pecado da
humanidade “E
não escondas o teu rosto do teu servo, porque estou angustiado; ouve-me
depressa (...) Deram-me fel por mantimento, e na minha sede me deram a beber
vinagre” ( Sl 69:17 -21).
Como Deus poderia
esconder o seu rosto do sacrifício perfeito? Cristo é o cordeiro morto desde a
fundação do mundo. Cordeiro sem mancha e sem mácula! Foi oferecido segundo a
vontade de Deus, portanto o sacrifício de Cristo subiu como cheiro suave às
narinas do Pai
“E andai em amor, como também Cristo vos amou, e se entregou a si mesmo por
nós, em oferta e sacrifício a Deus, em cheiro suave” ( Ef 5:2 ).
Ao citar o verso
primeiro do salmo 22, Cristo despertou entre os que assistiam a crucificação, a
curiosidade de aprenderem porque Ele foi descrito pelos profetas como verme e
opróbrio da humanidade. Quando questionassem o fato de Ele ter dito em aramaico
aqueles palavras, veriam que Ele citava as Escrituras. Quando consultassem as
Escrituras, veriam que o salmo cumpriu-se cabalmente naquele evento cruento.
Deste modo Cristo glorificou o Pai "Eu glorifiquei-te na terra, tendo
consumado a obra que me deste a fazer" ( Jo 17:4 ).
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